que se ama sem tomar o espaço útil destinado as tralhas dos filhos,ao cachorro,ao trabalho e,claro,á mulher.
Morre de ciume quando imagina os dois juntos,tranquilos,no sofá da sala que construíram para passar a vida
se rói de ódio mas não reclama porque,quando entrou na historia,já sabia quem era a protagonista.Mas segundinha que é segundinha sempre nutre a esperança de que a fulana
vá parar em outra peça,com outros atores,e o deixe todo para ela,numa sala sem o peso dos anos.Num sofá só deles.
Segundinha que se preze tem todos os telefones dele,inclusive o da casa,mas não liga em horários inoportunos.
Nada de sábado a noite,almoço de domingo,nem quando o filhinho pega no sono.Tem ótimo semancol e ,apesar de querer profundamente implorar aquele casamento,sabe que não é por aí o caminho que os levará
a ficar juntos(não sabe nem que existe tal caminho).Uma das coisas que ele aprecia nela,entre tantas qualidades enumeradas,é esse bom senso que consome o fígado dela mais que
talagada matinal de cachaça.
Ela se alegra em descobrir seus defeitos,aprender a lidar com eles,não achá-los tão insuportáveis assim.Admira-o,ouve suas narrativas e é tão boba que fica feliz
quando nota que os dois já têm algo para chamar de "historia",mesmo que senso escrita no rodapé,esmagada pelo corpo do texto do assunto principal.A segundinha fica infeliz por não poder andar de mãos dadas
na rua,nem apresentá-lo aos amigos ou tomar chope na calçada do supremo numa noite quente de quinta.Então ela segue sua rota,tentando manter o mínimo de sanidade.
Tenta abstrair o clichê da situação e relaxar.Conhece alguém interessante,corre por fora para não ser pega pelo cheiro do outro,o olhar,o corpo,que cismam em morder o calcanhar.
Ás vezes até consegue enganar as lembranças e mergulhar num paraíso temporário sem horas contadas, choros incontidos.Assusta-se ao ver um homem em sua cama sem a necessidade de sair correndo.
relembra como isso é aconchegante.Relembra como deseja alguém que durma com ela,acorde com ela.Mas não demora para a realidade escancarar a porta do quarto e deixar claro que aquele ser é tudo que ela poderia querer,mas não quer.
Ela passa dias,meses,tentando não enxergá-lo em todos os homens que cruzam seu caminho.Uma das coisas que mais entristece a segundinha é poder ,e não desejar,ser a primeira na vida de tantos outros.
É odiar ser a segundinha na vida de quem é o primeiro.E,da forma mais intensa,o único.
Ailin Aleixo.
revista:criativa.
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