quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Placebo emocional
Relacionamentos naufragados são como domingos chuvosos:sabemos que não são úteis para nada,mas insistimos que podem servir para alguma coisa.Então,dominados pelo cinza e pela sensação de abandono,reembarcamos na canoa furada.Mas esquecemos que fomos (re)conquistados porque teimamos em ter fé em coisas que não dependem de fé.Porque acreditamos que o que era ruim até um segundo atrás poderia ter se tornado perfeito e reluzente?formos seduzidos pelo que quisemos ver e não pelo que estava ,de fato,na nossa frente.Ficamos agoniados por não ter respostas e projetamos todas as soluções na "presença curadora do outro".
Mas elas não vêm.E a mágoa volta.Dobrada.Chorosos,pedindo ao céu uma explicação razoável para o bis do sofrimento.Tentamos no consolar em ombros de amigos,livros de auto -ajuda,sexo fácil,mas a explicação teima em não vir.Não adianta procurar em baixo do sofá,porque ela esta estampada na sua testa:você sofre porque é uma besta.
Vimos com nossos próprios olhos todos os problemas;os gritos das brigas arranharam a garganta e mesmo assim tentamos,desesperadamente,acreditar que dois monólogos podem fazer um diálogo.
O fato é que,por comodismo e paúra,nos acostumamos até com a infelicidade de um relacionamento capenga.O temos diante do novo nos priva da grande alegria de descobrir que o mundo é maior que nossa dor - de - cotovelo.esse temos da rejeição,da exposição,da falta de controle perante o que não conhecemos é o que de mais castrador podemos fazer a nós mesmos.
Ansiar por um momento que nunca se repetirá é apenas o outro lado de ansiar por um momento que passou para sempre.O passado só é lindo porque já foi.Não adianta reproduzir as cores dele no presente porque o tom nunca será o mesmo.Nem você,nem o outro.Esse presente (re) fantasiado,por melhor que seja ,nunca se igualará às suas expectativas ou lembranças.E acabará,fatalmente,em decepção.
Então,o que resta,é levantar a âncora:quem anda olhando para trás acaba tropeçando.E perdendo toda a paisagem.
por:Ailin Aleixo(aaleixo@edglobo.com.br)
revista:Gloss
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